Concílio de Niceia: quando a Igreja definiu sua fé e combateu a heresia

Em 325 d.C., a cidade de Niceia, no Império Romano do Oriente, tornou-se o palco de um dos momentos mais decisivos da história da Igreja: o Primeiro Concílio Ecumênico, convocado pelo imperador Constantino I. Diante de divisões doutrinárias que ameaçavam a unidade da fé cristã, o Concílio de Niceia foi o marco inaugural da busca da Igreja por uma definição comum da verdade revelada.

Por que o Concílio foi convocado?

Na época, o cristianismo enfrentava uma grave controvérsia teológica: o Arianismo, doutrina defendida por Ário, presbítero de Alexandria, que negava a plena divindade de Jesus Cristo. Segundo ele, o Filho de Deus não era eterno nem igual ao Pai, mas uma criatura exaltada, criada antes de todas as outras.

Essa pregação ganhou força, provocando cismas entre os cristãos e gerando sérias tensões no interior da Igreja. Preocupado com a instabilidade tanto religiosa quanto política, Constantino convocou todos os bispos do império para um grande concílio, que reuniu mais de 300 líderes eclesiásticos, principalmente do Oriente, em Niceia (atual Iznik, na Turquia).

O que foi decidido?

O Concílio de Niceia teve como principal objetivo preservar a verdadeira fé apostólica e garantir a unidade da Igreja. Entre os principais pontos definidos estão:

 

Condenação do Arianismo

Os bispos reunidos condenaram oficialmente os ensinamentos de Ário como heréticos. Afirmaram que o Filho é da mesma substância (homoousios) do Pai, ou seja, verdadeiramente Deus como o Pai é Deus.

 

Criação do Credo Niceno

Para preservar a ortodoxia, o concílio formulou o Credo de Niceia, profissão de fé que afirma claramente a divindade de Jesus Cristo e sua consubstancialidade com o Pai. Esse credo é rezado até hoje na Santa Missa em diversas liturgias cristãs.

 

Definição da data da Páscoa

Foi também decidida uma data unificada para a celebração da Páscoa, desvinculando-a do calendário judaico e buscando uma padronização para toda a Igreja.

 

Questões disciplinares

O Concílio tratou ainda de diversos temas pastorais e administrativos, como a ordenação de clérigos, a proibição de mudanças arbitrárias de bispos entre dioceses e normas de conduta clerical.

Um marco na relação entre Igreja e Império

O Concílio de Niceia representou também um novo momento na relação entre Igreja e Estado. Pela primeira vez, o imperador romano não apenas reconhecia a fé cristã, mas participava ativamente das suas decisões, como mediador e promotor da unidade religiosa.

Embora Constantino não tenha interferido nas decisões teológicas, sua presença foi determinante para garantir que os resultados do concílio tivessem autoridade eclesial e civil.

Legado eterno

O Concílio de Niceia foi o primeiro de uma série de concílios ecumênicos que, ao longo dos séculos, ajudaram a moldar a doutrina católica. Sua importância está não apenas nas decisões tomadas, mas também no exemplo deixado: diante de dúvidas e heresias, a Igreja se reúne, discerne, escuta o Espírito Santo e proclama com clareza a verdade da fé.

Hoje, quase 1700 anos depois, o Credo Niceno-Constantinopolitano, ampliado no Concílio de Constantinopla (381), permanece como uma das colunas centrais da nossa profissão de fé.

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